28 dezembro 2012

Sala de aula: Chapeuzinho Rosa


Mesmo sabendo que a maioria da turma ainda não estava alfabetizada - afinal, tinham acabado de ingressar ao primeiro ano do ensino fundamental -, desde o primeiro semestre as atividades de produção textual estavam incluídas em minha rotina semanal e eram das mais variadas possíveis, bem como os gêneros textuais propostos: escrita de textos de memória, legendas de fotos, listas, regras da sala, receita, bilhetes, cartões, resumo de algum conteúdo trabalhado em natureza e sociedade, relato de algum evento, transformar a história de uma tirinha em prosa, entre muitas outras, sendo elas realizadas individual, coletivamente (eu como escriba) ou em duplas produtivas (crianças com níveis de escrita próximos).


As crianças ilustrando o livro

Neste último semestre, para que compreendessem como um livro é produzido, além de desenvolver nos alunos habilidades de leitura, escrita e de trabalho em grupo, propus à turma para que criássemos a nossa própria versão para o conto Chapeuzinho Vermelho.

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Assim como o Livro de Gostosuras que desenvolvi com uma outra turma, este projeto foi dividido em algumas etapas:

1. Aumentar o repertório dos alunos
Para aumentar o repertório da turma, realizamos a leitura do conto Chapeuzinho Vermelho e suas diferentes versões, como Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, as diferentes versões de Torero & Pimenta em Chapeuzinhos Coloridos, e Elmo Vermelho de Flavio de Souza em Nove Chapeuzinhos. Antes das leituras, sempre lia o título da história e propunha para que levantassem suas hipóteses a respeito ("como será essa versão? quais serão as características das personagens?") e, após as leituras, confirmávamos ou não as hipóteses e realizávamos intertextualidades, comparando com os outros contos que havíamos lido, assim como com as vivências dos próprios alunos. Todos esses livros estavam presentes em nosso cantinho da leitura durante a realização do projeto.



Os livros trabalhados

2. O planejamento para a nossa versão
Nesta etapa, fiz a proposta para que montássemos o livro e o entusiasmo da turma foi enorme! Mas, antes de começarmos a escrever, precisávamos combinar como seria a nossa versão. Cada criança expunha a sua própria ideia, os colegas discutiam a respeito e eu fazia perguntas para orientá-los ("mas qual seria a característica da garota? ela é boa ou má? onde ela acha o capuz?"), até que todos chegaram a um comum acordo: nossa Chapeuzinho Rosa seria uma super heroína e, o lobo, um zumbi gigante que viria de outro planeta e morava em um castelo ("porque a história tem que ser assustadora também!").

3. A produção coletiva do conto e sua revisão
Começamos então a escrever: tudo o que me ditavam eu escrevia na lousa ou no Microsoft Word do projetor digital e esta etapa teve alguns dias de duração, afinal escrevíamos o conto por partes.

Esses momentos de escrita permitiam também a reflexão sobre a língua escrita - afinal surgiam conflitos entre as crianças sobre a forma de escrever determinadas palavras -, assim como reflexões gramaticais: "Será que poderíamos substituir esta por outra palavra (sinônimos e pronomes)? Não ficaria melhor se acrescentássemos outra palavra aqui, para descrever melhor a personagem ou a ação (adjetivos e advérbios)? Como podemos transformar a palavra "garota" para mostrar o quanto ela era pequena (diminutivo)?"

Assim que concluímos o conto, li para a turma e fizemos mais algumas revisões: primeiro as de coerência ("No início da história, há uma pegada embaixo do meteoro. Por que essa informação é importante?", "Pro, se o lobo é gigante, como ele vai entrar na casa da Vovó?") e depois algumas gramaticais, como as já citada logo acima.

4. Ilustrando
Por fim, as crianças realizaram, individualmente, em duplas ou em trios (conforme escolheram), a ilustração do conto. Aqui faziam combinados sobre quem desenharia o quê, quem seria o colorista, quais as cores utilizariam, etc.

Após concluído este nosso projeto, deixamos exposto no Congreg (congresso de escolas municipais) da região, no nosso cantinho da leitura e na última reunião de pais. A montagem desse nosso livro serviu de grande estímulo para as crianças, pois perceberam que qualquer um pode também ser um autor: muitas passaram a escrever seus próprios contos sozinhas (mesmo não convencionalmente), ou se organizavam em grupos (que chamavam de "editoras") para montarem seus livrinhos, com capa, dedicatória, ilustrações e a história propriamente dita!

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