14 janeiro 2011

Existe hierarquia no ensino?

Em aproximadamente um ano e meio após eu ter começado meu curso de Pedagogia (em meados de 2008), consegui um estágio em uma escola particular. Atuava como auxiliar de sala e entre as minhas tarefas eu tinha que trocar fraldas e dar banhos em algumas das crianças.
Confesso que de começo eu estranhei um pouco a ideia. Afinal, o que eu iria aprender trocando fraldas e dando banhos, um seguido do outro? E outra: uma babá recebia mais que o dobro que eu para cuidar de apenas uma criança, enquanto que eu ficava com aproximadamente umas quinze (se não mais)!


O profissional que troca fralda é menos importante que aquele que ensina os maiores a encontrarem o valor da hipotenusa?

Depois de um tempo, comecei a lecionar em uma sala de pré (Segundo Estágio ou Jardim II) em uma outra escola e bem no finalzinho da graduação fui chamada para uma entrevista em uma creche conveniada com a Prefeitura próxima daqui de casa.
Quando comecei Pedagogia não considerava a possibilidade de trabalhar em creche, apenas em prézinho ou ensino fundamental. Não tinha uma visão tão ampla de qual seria o papel do educador para crianças de 0 a 3 anos, já que até então as matérias lecionadas no meu curso não se enfocavam muito nesta faixa etária. Então não fui muito animada para entrevista, mas como a escolinha era próxima daqui resolvi ir pra ver no que é que dava.

Durante a entrevista comentaram que possivelmente eu pegaria uma sala de Berçário I (0 - 1 ano). Eu pensei: "Como assim, bebês? Não estou cursando Pedagogia pra ficar trocando fralda".
Porém, comparando com o salário que eu recebia, até que a oferta era bem bacana. Além disso a distância era muito melhor, seria uma experiência nova e tinha a possibilidade de crescer lá dentro (virar coordenadora ou diretora). Por que não arriscar?



Qual dos dois é menos importante?

Assim que entrei, atuei como volante - que é uma espécie de auxiliar, que fica andando pela creche e ajudando as professoras, atendendo o portão, etc.
Depois de um tempo, mais ou menos em Novembro de 2009, peguei uma turminha já em andamento. Ficava com mais duas professoras, e uma delas já estava com os pequenos desde o início do ano. Pra evitar qualquer tipo de discórdia, continuei fazendo tudo o que haviam planejado.
Durante esse tempo ficava observando a relação das professoras com os bebês. Diferente da primeira escola por onde passei, elas tinham um amor e uma dedicação imensa pelo que faziam. E apesar de terem apenas cursado Magistério - que geralmente é muito menosprezado por aquelas que só cursaram Pedagogia -, tinham ideias e práticas muito legais mesmo!
Infelizmente ainda é muito comum as pessoas terem uma visão distorcida a respeito de creche justamente porque antigamente era um local onde os pais "depositavam" as crianças para irem trabalhar, e deixavam com profissionais que não eram tão qualificados.

No ano seguinte, em Fevereiro de 2010, assumi uma turma de Minigrupo (2-3 anos). Já tinham passado pela fase do desfralde, mas ainda era papel do educador cuidar da higiene dos mesmos, bem como da alimentação.
Comecei a pesquisar na internet, livros e revistas a respeito da faixa etária, e assim pude ampliar mais a minha visão a respeito da creche. Foi uma experiência bem bacana, especialmente pelo fato de acompanhar o desenvolvimento de todos eles - a superação de medos, o aprendizado de novos valores, etc. - e acabar com aquele meu antigo preconceito.
E foi a partir dessa experiência que pude observar o quanto é importante o papel de um educador na creche, que vai muito além da higiene e alimentação dos pequenos - apesar de que esses são também momentos muito ricos de aprendizado para os bebês.


Video que comprova que o trabalho na creche também pode ser riquíssimo

Saí da creche seis meses depois por causa de certos problemas que estava tendo - que não tem relevância em comentar aqui - e iniciei minhas atividades em uma escola de Ensino Fundamental.
E eu que no início do meu curso menosprezava as educadoras de creche, especialmente as que possuiam apenas magistério, acabo sendo menosprezada algumas vezes por professores que lecionam para oitava série. Talvez por acharem que a complexidade aumenta de acordo com a faixa etária que lecionam, sabe-se lá!

Agora penso que, independente da faixa etária para o qual leciona (seja para berçário, seja para ensino superior), o papel do educador é o mesmo - o de trabalhar com o desenvolvimento de um ser humano. No ensino não deve existir hierarquia, pois o papel de qualquer educador é importante.
Diferente do que muitos pensam, trabalhar com o Ensino Fundamental não é mais difícil do que trabalhar com creche: tem as suas diferenças, claro, mas não significa que o profissional deve ser mais qualificado para uma faixa etária ou menos pra outra. Acredito que existem educadores que gostem mais e que trabalham melhor com uma faixa etária, e outros com outra.. Assim como um oftalmologista e um cardiologista: ambos são médicos e cuidam da saúde de seus pacientes (óbeveo! (sic)), porém se especializaram em áreas diferentes e o papel de um não é menos importante que o do outro.

Lembro que quando cursei Técnico em Informática, meu professor contou uma histórinha que ficou marcada pra mim, que se chama O Técnico em Informática e o Parafuso (caso não conheça, leia aqui).
Como ensina a histórinha, temos que olhar para uma atividade não pela sua aparência, mas sim pelo seu conteúdo. Ás vezes, observando as atividades de uma creche (como a leitura de uma histórinha, o canto de uma música, a simples troca de uma fralda, por exemplo) acabamos menosprezando seus profissionais, pois são tão fáceis de realizar, ou talvez tão insignificantes (parecem que só servem pra "passar o tempo"). Porém toda atividade é de extrema importância quando o educador estudou e sabe o que está fazendo, já que tem a consciência de que está colaborando diretamente para o desenvolvimento de alguém..

2 comentários:

  1. Anônimo4:11 PM

    Nós temos uma tendência a menosprezar funções que aparentemente requerem menos esforço intelectual para serem executadas, mas nos esquecemos que essas funções têm um papel fundamental e, como qualquer outra, requerem habilidades e dedicação para que sejam bem executadas.

    É bom tomar cuidado pra que não sejamos babacas prepotentes com relação às atividades que julgamos "inferiores", né.

    Mi.

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  2. Olá, gostei do post. Acho que vc propôs uma boa reflexão. Na verdade nenhuma etapa do aprendizado deve ser menosprezada, pois ela forma o todo.
    Você precisa voltar a postar, agora que descobri seu blog gostaria de ler mais posts seu.

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